Em palestra, Triptyque aborda uso de madeira na arquitetura

Com raízes na França e alma no Brasil, escritório fala sobre suas criações em diversas partes do mundo e discorre sobre o poder do arquiteto de mudar a realidade urbana


(Foto: Fabia Mercadante)

O escritório franco-brasileiro Triptyque foi o convidado da noite da última quarta-feira, 4 de abril, para ministrar a palestra com tema “Arquitetura Sensorial”, no programa de palestras realizado pela plataforma Arq!Bacana, revista PROJETO e Museu da Casa Brasileira (MCB).

Com público variado entre profissionais de diversas áreas e estudantes, a conversa realizada no MCB, em São Paulo, permeou por vertentes da arquitetura, envolvendo os conceitos abordados em projetos nacionais e internacionais do estúdio, suas participações em concursos públicos e a atuação no desenvolvimento de sistemas estruturais em madeira.

Sócia do escritório, Carolina Bueno representou os outros três sócios (Greg Bousquet, Guillaume Sibaud e Olivier Raffaelli) e toda a equipe. A arquiteta contou sobre a história de formação do grupo, que festeja 18 anos em 2018: “É a nossa maioridade”, disse. Desde a fundação do escritório, os sócios buscaram trabalhar com multiplicidade de projetos inspirando-se em muita criatividade. O grupo variou nos usos das edificações e decidiu explorar as possibilidades de sistemas construtivos e materiais, abrangendo questões históricas e ambientais de acordo com o local de implantação de cada projeto.

Os arquitetos reúnem hoje vasta produção em algumas partes do mundo, incluindo Brasil, França, Estados Unidos e Ásia, além de prêmios conquistados internacionalmente. Foram escolhidos dez projetos de grande significado para o escritório – além dos outros dois que ainda estão em fase de desenvolvimento – para serem apresentados à platéia e discutirem as questões sensoriais que os compõem em essência.

A inauguração da palestra e das produções do Triptyque se deu pelo projeto Harmonia, em São Paulo, que, ao invés de eliminar a água do terreno inundável, incorporou o elemento para desenvolver junto ao paisagista Peter Webb um cimento orgânico que recobriria toda a construção. Então, o prédio mineral poderia utilizar a água drenada do terreno para abastecer, cinco vezes ao dia, as mais de 5 mil mudas de plantas que compõem as fachadas, sendo uma arquitetura capaz de produzir sensações de conforto em seus usuários.

Como obras mais recentes ainda em fase de projeto, a arquiteta apresentou o edifício de uso misto nomeado Floresta Urbana: composto de 14 pavimentos escalonados e construído inteiramente em madeira certificada. Localizado em terreno de aproximadamente 1 mil metros quadrados, no bairro Vila Madalena, em São Paulo, a proposta é proveniente de uma iniciativa da empresa florestal brasileira Amata. “A gente nomeou o projeto como Floresta Urbana, porque quisemos trazer a sensação, o sensorial, o cheiro e a umidade da floresta para a cidade”, comenta Carolina sobre os conceitos que nortearam as escolhas projetuais.

Como participação mais recente do escritório, o edifício Ecotone integra a lista dos projetos vencedores do concurso “Inventons la Métropole Du Grand Paris” – que traduzido para o português significa “Vamos inventar a metrópole de Paris”. Seu edital buscava projetos inovadores que mobilizariam a cidade e, assim, o grande lote escolhido pelo escritório foi o localizado ao lado do anel periférico que envolve a capital francesa. O projeto traz como conceito o biomimetismo em uma edificação que receba pessoas para estudar, trabalhar e morar, funcionando como um polo de biotecnologia da região.

O prédio, dividido em dois corpos e unidos por passarelas, é recoberto por um material fibroso transparente. “É como se fosse uma grande membrana que mimetiza a topografia do lugar, recobre todo o espaço e tempera o ar, sendo toda sua estrutura de madeira”, disse Carolina Bueno.

O repertório da noite foi finalizado com o pensamento chave que sempre conduziu a linha de pensamento do escritório: “Daqui há pouco tempo, vamos começar a receber cada vez mais gente [nas cidades]. Não dá para não trazer a natureza, que é a nossa grande semente e o nosso grande tesouro, para próximo de nós”. A arquiteta também complementou: “A história é de fato transformar e trazer a natureza para dentro do projeto como um dos seus materiais (…), como um dos ingredientes da receita”.