Exposição celebra obra de Zanine Caldas

Mostra homenageia o centenário do consagrado arquiteto, designer, artista, paisagista e professor, com obras de sua emblemática produção do móvel-denúncia, em que alertava para o desmatamento das florestas brasileiras. A abertura será no dia 14 de setembro, no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM Rio)

Zanine com o martelo em punho, quando construiu uma casa de madeira para a exposição de 1983, no MAM Rio (Foto: Acervo Rita Tristão_Divulgação Editora Olhares).

O Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro apresenta a exposição “Zanine 100 anos – Forma e Resistência”, contendo 18 obras feitas por José Zanine Caldas (1919-2001) com espécies brasileiras. A curadoria coube a Tulio Mariante, curador de design do MAM, que selecionou exemplares da emblemática e profícua produção de Zanine entre o final dos anos 1960 e 1980, conhecida como “móvel-denúncia”. Feitas em madeira maciça, as peças já na época denunciavam o desmatamento das florestas do país. A esse respeito, o curador explica que ele “coletava as madeiras em restos de abates, muitas vezes irregulares, como forma de denúncia, como forma de resistência”.

Mais do que móveis, esses trabalhos passaram a ser considerados esculturas funcionais, uma maneira de o artista expressar sua percepção da nossa cultura. O processo de criação era lento e requeria o emprego de ferramentas tradicionais como serrote, enchó, formão, plaina. A mão de obra ficava a cargo dos canoeiros da Bahia.

Várias das peças à mostra são criações do período em que Zanine Caldas viveu em Nova Viçosa, na Bahia, onde instalou uma oficina que se tornou ponto de encontro de grandes nomes da cultura brasileira, a exemplo de Oscar Niemeyer, Carlos Vergara, Chico Buarque, Amelia Toledo, Odete Lara entre outros. Lá, ele construiu a famosa casa na árvore para o artista Frans Krajcberg.

São destaques da exposição peças como “Namoradeira”, “Redário”, a escultura em madeira pequi, a mesa de jantar e o aparador com tampo de vidro criados em Nova Viçosa nos anos 1970, além do sofá feito em ilhéus em 1980, entre outras.

Nascido em 1919 na cidade baiana de Belmonte, Zanine era autodidata, e começou sua carreira como maquetista de grandes nomes da arquitetura nacional, como Lúcio Costa e Oscar Niemeyer. “Quando maquetista, Zanine foi autor de modelos de alta qualidade, e criador capaz de propor aos arquitetos soluções para impasses em seus projetos. Seu talento o levou a percorrer os caminhos da arquitetura e do desenho de móveis que acabaram por lhe conferir o título de Mestre da Madeira”, explica o curador.

No design de mobiliário, Zanine conduziu a experiência da Móveis Z, fundada em fins dos anos 1940, em São Paulo, apostando na industrialização para apoiar – e aproveitar – a difusão de um novo estilo de vida trazido pela modernidade. Na década de 50, foi paisagista e teve uma loja de vasos e arranjos de flores na Av. Paulista. Depois, mudou-se para Brasília a fim de produzir maquetes dos prédios da nova capital em construção. Na década de 1970, viveu entre o Rio de Janeiro e Nova Viçosa, no sul da Bahia, de onde trazia as grandes toras que marcam sua arquitetura e onde produziu sua linha de móveis pesados, que maximizavam a expressão da madeira descartada no processo de devastação da Mata Atlântica que acontecia na região. Além disso, em sua inquietude, Zanine se envolveu em muitos projetos sociais, teve importante presença na vida acadêmica e, mesmo não tendo um diploma, obteve reconhecimento não apenas no Brasil, mas também no exterior. Circulou por diversos países – em especial a França, onde teve exposição individual no Museu de Artes Decorativas do Louvre, em 1989, estabelecendo trocas culturais e de conhecimento técnico. Morreu em Vitória, em 2001.

Trata-se da terceira vez que o MAM realiza uma exposição sobre José Zanine Caldas. A primeira mostra individual no Museu foi em 1975, e a segunda em 1983, quando construiu, junto aos jardins, uma casa de madeira.

A visitação vai até 17 de novembro. No dia 24 de setembro, haverá ainda na mostra o lançamento de uma publicação abrangente e bilíngue sobre a trajetória de Zanine (Editora Olhares e R&Company Gallery, 300 páginas, com textos de Amanda Beatriz de Palma Carvalho, Lauro Cavalcanti e Maria Cecilia Loschiavo dos Santos, além de ensaio fotográfico de André Nazareth).

Mais informações no site

Exposição “Zanine 100 anos – Forma e Resistência”
Local Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro – no Foyer
Endereço Av. Infante Dom Henrique, 85, Parque do Flamengo – Rio de Janeiro 
Abertura de 14 de setembro a 17 de novembro de 2019
Funcionamento de terça a sexta, das 12h às 18h; sábado, domingo e feriado, das 11h às 18h (bilheteria até 17h30)
Ingresso custa R$ 14 e é gratuito nas quartas-feiras, para menores de 12 anos e para Amigos do MAM Rio; meia-entrada para estudantes, maiores de 60 anos, menores de 21 anos, portadores de deficiência e acompanhante, assim como profissionais da rede pública municipal de ensino do Rio de Janeiro; ingresso-família R$ 14 (aos domingos, para até cinco pessoas)
Tel. 21 3883-5600